O processo de beatificação do Padre Cícero Romão Batista avançou nos últimos dias. Conforme anunciado pela Diocese de Crato na sexta-feira (31), iniciou oficialmente a fase romana da causa que busca reconhecer o Padre Cícero como “beato” da Igreja Católica. O caso agora está sendo analisado em Roma e entra em um momento decisivo.
Com esse avanço, encerra-se a fase diocesana, iniciada no Brasil, na qual a Diocese de Crato realizou a coleta e análise de documentos, testemunhos e informações sobre a vida e as virtudes do sacerdote.
Agora, o processo segue para análise no Vaticano, onde será estudado pela Congregação para as Causas dos Santos, órgão responsável por avaliar casos de beatificação e canonização.

(Foto: Gustavo Pellizzon / SVM)
O padre Wesley Barros, vice-postulador da causa de beatificação do Padre Cícero Romão, explica que a fase diocesana do primeiro inquérito sobre a vida e as virtudes do Padre Cícero durou cerca de dois anos, já que a causa foi aberta em novembro de 2022 e seguiu até junho de 2025.
A abertura do processo de beatificação foi autorizado, em agosto de 2022, pelo Papa Francisco. Para a beatificação, aponta o padre, são necessários dois inquéritos:
“Estamos trabalhando no primeiro inquérito sobre vida, virtudes e fama de santidade. Iniciou-se a fase romana desse inquérito, quando a Santa Sé, por meio do Dicastério para as Causas dos Santos, abre oficialmente todo o material enviado, num total de 4.762 páginas, correspondentes às atas do inquérito sobre a vida, virtudes e fama de santidade do Padre Cícero”, comentou o Padre Wesley Barros.
Quando a documentação foi enviada a Roma, a Diocese do Crato aguardava a emissão de um documento do prefeito do Dicastério, o cardeal Semeraro, autorizando a abertura do processo. O documento foi assinado em 20 de outubro e, no dia 31, as atas foram oficialmente abertas.
“Como todos sabem, esses documentos foram sigilados em solenidade na Basílica de Nossa Senhora das Dores, em 7 de junho, e encaminhados, por meio da Nunciatura Apostólica, ao Dicastério para as Causas dos Santos”, completou o padre.
O que acontece agora
Com a abertura das atas, inicia-se a fase romana, na qual todo o material enviado pela Diocese do Crato será estudado.
“Será nomeado um relator, um teólogo responsável pelo inquérito, que elaborará a ‘posició’, uma tese sobre o Padre Cícero, suas virtudes, fama de santidade e vida. Trata-se de uma tese extensa, com cerca de 300 páginas.”
Essa tese, elaborada com base no material enviado do Ceará, será analisada por uma comissão de teólogos. “Depois, cada teólogo emite um parecer sobre o estudo realizado, em sessão plenária. Então ocorre o Congresso de Teólogos.”
O padre ressalta que se trata de um processo minucioso, portanto, demorado e não há prazo definido. Caso seja aprovado pelo Congresso de Teólogos, o material será submetido aos cardeais nomeados pelo Dicastério para as Causas dos Santos, e então ocorre o Congresso de Cardeais.
Somente após essa etapa, o processo segue para o Papa Leão XIV, que poderá reconhecer as virtudes do Padre Cícero com base nos pareceres dos teólogos e cardeais.
Se o Papa assim proceder, detalha o padre, “ele publica um documento declarando oficialmente que o Padre Cícero viveu em grau heroico as virtudes. Ele passará a ser chamado ‘venerável Servo de Deus’. Nesse momento, encerra-se o trabalho do primeiro inquérito. Então poderemos protocolar o segundo inquérito, que também terá fase diocesana e romana, sobre um possível milagre ainda em investigação.”
É nesse segundo inquérito, aponta o padre, que, se se reconhecer um milagre nas fases diocesana e romana, poderá resultar na beatificação do Padre Cícero.

Foto: Kid Jr
“Manter a chama acesa”
O padre ressalta que o trâmite descrito “acontece com todas as causas” e é um “procedimento normal”. “Noticiamos porque isso lança luz sobre o coração das pessoas, mantendo acesa a chama da esperança e incentivando a oração por essa causa. Mas tudo segue normalmente, não se trata de algo extraordinário”.
Ele destaca como positiva a autorização da Igreja para abrir a causa de beatificação e classifica esse avanço como a última grande novidade sobre a história de Padre Cícero.
Quanto à veneração, ele explica que para os fiéis “não muda nada”. “Continuaremos rezando privadamente pela beatificação do Servo de Deus Padre Cícero e acompanhando todo o processo de estudo.”

(Foto: Kid Jr)
Quem foi Padre Cícero
Padre Cícero Romão Batista (1844–1934) é uma figura emblemática da religiosidade católica. Nasceu no Crato, no sul do Ceará, em 24 de março de 1844, em família humilde, e fez voto de castidade aos 12 anos. Após completar os estudos em Fortaleza, foi ordenado padre em 1870.
Em Juazeiro do Norte, tornou-se uma figura central da religiosidade popular nordestina, atraindo devoção massiva, enquanto sua atuação política, sobretudo na emancipação de Juazeiro, gerou controvérsias.
O episódio mais famoso de sua vida é conhecido como o “milagre da hóstia”, ocorrido em 1889, quando a beata Maria de Araújo teria recebido a comunhão e a hóstia se transformado em sangue.
O suposto milagre dividiu a Igreja: enquanto muitos fiéis viam Padre Cícero como santo, a hierarquia católica reprovou o caso. Nesse processo, a Igreja excomungou o Padre Cícero por não reconhecer os supostos milagres. Ele morreu aos 90 anos, em julho de 1934, sem poder celebrar missas.
Fonte: Diário do Nordeste



