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COMERCIALIZAÇÃO DO MEL

Produtores de mel do Piauí devem reduzir preços em 20% para continuar exportando aos EUA

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Após quatro meses do início das taxações impostas por Trump aos produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos, o governo estadunidense resolveu, na última semana, retirar a tarifa de importação de 40% sobre determinados produtos do Brasil. Constando na lista da Casa Branca produtos como o café, carne bovina, sucos, bananas, mas o mel, principal produto da agricultura familiar piauiense vendida ao país, ficou de fora, gerando preocupação aos produtores locais para os caminhos do mercado piauiense no próximo ano.

(Foto: Reprodução)

O fim da taxação a diversos produtos brasileiros foi fruto de uma negociação entre o Governo do Brasil e dos Estados Unidos, onde houve uma conversa por telefone entre os presidentes Lula e Trump. “Durante a qual concordamos em iniciar negociações para abordar as questões identificadas no Decreto Executivo 14.323”, diz trecho da ordem executiva publicada por Trump. O informativo também aponta que as negociações ainda estão em andamento para possíveis novos produtos, incluindo o mel.

(Foto: Reprodução)

O diretor-geral da Central de Cooperativas Apícolas do Semiárido Piauiense (Casa Apis), Sitônio Dantas, informou que o mercado estadunidense não quer perder a produção do mel orgânico do estado, mas os contratos com as empresas do país norte-americano se encerram ao fim de dezembro de 2025, e se preocupam com o futuro dos produtores locais.

“Os clientes estão sempre procurando, na última semana a gente conversou com eles, pedindo paciência, nós não vamos deixar de comprar vocês. Mas, assim, há uma incerteza no ano que vem porque, de repente, tem outros fornecedores que eles passaram a negociar”, disse o produtor.

De acordo com Sitônio Dantas, os produtores ainda não sentiram o impacto financeiro das taxações nos contratos já existentes, pois possuem uma validade até o fim de dezembro deste ano. A preocupação é com o que vai acontecer no próximo ano com a manutenção do aumento dos tributos de importação ao Brasil. Uma das possibilidades, segundo o diretor da Casa Apis, seria uma redução de 20% no custo do produto piauiense para exportação, contrariando o desejo da cooperativa que esperava crescer seu faturamento com o aumento do valor do mel do Piauí.

“Diante da situação, principalmente depois dessa lista que foi divulgada, nós vamos ter perdas de preço no mercado, ou seja, vai ter baixa de preço mel. Não tem como a gente conseguir chegar, nós vamos ter um acordo nele para vender o produto, para vender a safra de 2025”, disse o produtor.

Ele ainda informou que há três anos os importadores de mel do Brasil nos Estados Unidos pagam uma taxa de 10% na operação. A medida foi adotada após a associação de apicultores do país realizarem um lobby junto ao parlamento estadunidense para criar medidas para aumentar a produção local e, por consequência, o faturamento dos produtores locais, o que acabou tendo uma situação agravada para os brasileiros com a implementação e manutenção das taxas de 50% ao mel brasileiro.

Sitônio informou que a taxação se tornou um problema tanto para os compradores estadunidenses como para os produtores piauienses, já que eles conferem ao produto do estado como algo de muita qualidade, pela diferenciação do bioma do semiárido e das floradas onde as abelhas produzem o mel, que gera um grande destaque por ser um produto orgânico, sem o uso de produtos defensivos que acabam agregando mais valor ao mel do estado.

(Foto: Reprodução)

O comércio local não é capaz de suprir a demanda do mercado externo, principalmente do que é vendido para os Estados Unidos, já que é o maior importador de mel mundial, tornando a vida do produtor em achar novos mercados mais complicada. Sitônio informou que a medida do Governo do Piauí em comprar o mel piauiense que sofreu com as taxações para direcionar à merenda escolar foi irrisória, já que foram compradas apenas 5 toneladas do produto. Dados da Pesquisa Pecuária Municipal (PPM), do IBGE, apontaram que a produção de mel do Piauí subiu de 3.249,5 toneladas em 2014 para 8.829,8 toneladas em 2023.

“Até agora o que foi comprado para a merenda escolar foi 5 toneladas de mel, e essa conversa desde aquele tempo quando surgiu o problema, o governo estadual falou muito na mídia e não realizou nada, nós só fizemos uma venda de 5 toneladas de mel”, afirmou.

O diretor da Casa Apis informou que o governo deveria ter realizado novas compras, pois a ação criaria um hábito de consumo que não existe no estado para o uso do mel dentro do cardápio do piauiense, o que potencializaria o mercado interno. Ele cita a Turquia, que é um dos maiores produtores de mel do mundo, mas exporta apenas 6 mil toneladas, mantendo o restante no mercado interno, o que poderia ser um exemplo para o Brasil.

“Eles produziram, no ano passado, 118 mil toneladas de mel, veja que o Brasil todo produziu 77 milhões. Eles só venderam 6 mil toneladas de mercado externo, ou seja, porque eles consomem 112 mil toneladas de mel dentro da cultura do país”, defendeu.

A grande preocupação dos produtores do estado com a demora na retirada das taxações americanas ao mel na América do Sul seria a Argentina, que é uma grande produtora, mas com uma diferença: não tem a mesma qualidade do mel piauiense. Com os preços altos para a importação, o estado pode perder espaço e os atuais contratos podem ser direcionados aos produtores do país vizinho.

“A Argentina está sempre no topo com o sexto lugar de produção. O grande a nosso favor é a qualidade do mel. Por exemplo, a Argentina, esse grande produtor de mel, começou primeiro que nós, tradicionalmente sempre foram grandes produtores de mel, mas o mel deles não tem a qualidade que tem o mel aqui do Piauí”, disse.

Ele ainda informou que a Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, é quem mais tem ajudado os produtores piauienses na abertura de novos mercados que possam superar os impasses gerados nas taxas de importação dos Estados Unidos. Ele afirmou que a agência custeou 80% dos valores em viagens para a Europa e Oriente Médio na busca de novos mercados, mas que o entrave está em atrair a compra do mel orgânico, que é o diferencial do Piauí, pois o custo é mais alto.

“A gente andou pelo Oriente Médio, eles ajudaram, pagaram mais de 80% dos custos, mas é muito difícil porque você tem de 12 países que são os maiores produtores mundiais de mel. Esses 12 produzem 80% do mel do mundo. É uma produção estimada em 1 milhão e 870 mil toneladas e, de todo esse mel produzido, o orgânico não chega a 5%”, defendeu.

Sitônio Dantas disse que a maior dificuldade que os produtores do Piauí tiveram este ano, além da taxação, foi a estiagem, que afetou a produção com a previsão de uma queda de 35% só no estado.

“O semiárido como um todo [passou por dificuldades], mas temos estados como o Maranhão e o Ceará que foram menos afetados do que o Piauí. O período de produção deles é diferente do nosso, e na época da produção lá, eles não tiveram um problema tão intenso como aconteceu aqui no Piauí, que faltou chuva”, declarou.

Os produtores de mel do estado esperam que a situação das chuvas possa se regularizar para continuar sendo um dos maiores produtores do país, onde atualmente ocupam a segunda colocação. Mas, para se manter nesta posição, é necessário que possam novamente exportar para os Estados Unidos. Ao serem questionados sobre o que farão caso a medida não seja derrubada, os produtores afirmam que não há solução prática para resolver o problema e o impacto financeiro que ele trará ao setor no estado.

Fonte: Portal O Dia

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