O prefeito de Uruçuí, Francisco Wagner Pires Coelho (PP), foi afastado do cargo por determinação da Justiça nesse domingo (26). A determinação é consequência das investigações da Operação Cerrados. O prefeito deve ficar fastado do cargo por 180 dias.
De acordo com a decisão da Justiça, o prefeito e seu filho, Elano Martins Coelho, são suspeitos de operar um esquema de desvio de dinheiro público destinado à coleta de lixo da cidade. Elano já foi alvo de uma ação do Ministério Público quando foi impedido de assumir o cargo de procurador-geral do município, em 2021.
Segundo a decisão da Justiça, assinada pelo desembargador Erivan Lopes, a suspeita é de que o grupo fraudou uma licitação para favorecer uma empresa, a Ambientar Construções e Serviços de Obras, em um processo licitatório no primeiro mandato (2017-2020), e superfaturado valores referentes ao serviço.
Um afastamento dos sigilos bancários do prefeito, do filho e de outros parentes dele revelou diversos saques e depósitos de dinheiro em espécie nas contas deles, feitos por pessoas ligadas à empresa investigada.
Segundo o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), pelo menos R$ 4,5 milhões foram pagos pela Prefeitura de Uruçuí para a empresa. Os investigadores identificaram o desvio de mais de R$ 100 mil em recursos públicos para empresários, familiares e gestores da Prefeitura de Uruçuí.
“Há informação de transações de saque na boca do caixa que chegam ao montante de R$ 2 milhões e 360 mil em um banco e em outra instituição financeira a quantia chegou a R$ 1 milhão e 700 mil, nesse período”, afirmou o promotor de Justiça Cláudio Soeiro.
A suspeita é de que a fraude venha ocorrendo desde 2017 e possa ainda está acontecendo, já que a mesma empresa foi contratada novamente em 2022. O afastamento do prefeito serve para impedir que o crime continue, caso esteja sendo cometido.
A decisão determinou ainda que os policiais façam buscas em três endereços ligados ao prefeito e ao filho nas cidades de Uruçuí e em Balsas, no Maranhão, e também em endereços ligados a outras 9 pessoas, a maioria em Teresina, e em duas empresas localizadas em Uruçuí, Teresina e Nazária.
Operação Cerrados
A Prefeitura de Uruçuí é investigada por suspeita de desvio de recursos cometidos por meio de contratos milionários firmados acima do valor de mercado com uma empresa para a coleta de lixo no município, localizado 453 km ao Sul de Teresina. Endereços ligados ao prefeito Dr. Wagner Coelho, e a outros alvos de investigação, foram vasculhados em buscas de provas, na última segunda-feira (20) durante a Operação Cerrados.
Em nota, o prefeito de Uruçuí confirmou o cumprimento de mandados de busca e apreensão no município. Contudo, o gestor disse não ter tido acesso à decisão e que não recebeu informações sobre a operação. Veja a nota ao fim da reportagem.
A operação é do Ministério Público do Piauí (MP-PI), por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), em conjunto com a Polícia Civil (PC-PI), a Polícia Militar (PM-PI) e o Tribunal de Contas do Estado (TCE-PI).
Ao todo, foram cumpridos 12 mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao gestor, outros políticos e pessoas ligadas a eles. Servidores públicos, empresas e seus sócios-proprietários também são investigados.
As ordens judiciais, emitidas pela 2ª Câmara Especializada Criminal do Tribunal de Justiça do Piauí, foram cumpridas em Uruçuí e Teresina, além de Timon e Balsas, no Maranhão. As ações no estado vizinho tiveram participação do Ministério Público Estadual maranhense.
“A investigação visa apurar a prática dos crimes de desvios de recursos públicos, organização criminosa, lavagem de dinheiro, fraude à licitação, peculato, corrupção ativa e corrupção passiva, cometidos através de contratos firmados entre empresas de fachada e o Município de Uruçuí”, informou o MP-PI em nota.
Além do prefeito, outros políticos e pessoas ligadas a eles. Servidores públicos, empresas e seus sócios-proprietários também são investigados. O Ministério Público informou que a investigação aponta a existência de “uma associação criminosa visando o desvio de recursos públicos de Uruçuí”.
Esse desvio, segundo o órgão, era realizado com o direcionamento de licitações a uma determinada empresa, utilizada pela organização criminosa, seguido da contratação da mesma, com preço acima do normal, pelo gestor municipal.
“Após o pagamento da empresa, parte do recurso público era remetido, diretamente ou por meio de pessoas interpostas, para as contas bancárias dos empresários, políticos e seus familiares, bem como de empresas ligadas a eles”, afirmou o Ministério Público.
Participaram diretamente da execução da operação Promotores de Justiça do Estado do Piauí, Delegados e Agentes da Polícia Civil, equipes da Polícia Militar, servidores do Ministério Público Estadual e auditores do TCE-PI, além do GAECO do MPMA.
Nota do prefeito
O prefeito dr. Wagner Coelho esclarece que até o momento não recebeu nenhuma informação sobre a Operação Cerrados e confirma que houve na manhã desta segunda-feira (20) cumprimento de mandados de busca e apreensão no município, todavia não teve acesso à decisão.
Fonte: G1 Piauí